O processo de implementação do novo ensino médio é um desafio para todas as instituições de ensino. Afinal, com grandes como o aumento da carga horária e a reestruturação da grade curricular, é normal os integrantes da comunidade escolar se sintam perdidos. Todavia, com organização e planejamento, é possível passar pela transição com tranquilidade.
A reestruturação da última etapa do ensino básico deve acontecer de forma gradativa, até 2022. Dessa forma, é importante que as escolas iniciem o processo o quanto antes. Assim, a transição será feita de forma eficiente e atenderá as necessidades da comunidade e da instituição de ensino.
Nesse sentido, para colaborar com as escolas no processo de implementação do novo ensino médio, preparamos um guia. O conteúdo traz as principais dicas para nortear o processo de planejamento e aplicação do novo modelo. Confira!
1. Por que um novo ensino médio?
Antes de iniciar um processo de mudança, é fundamental ter total compreensão da proposta e finalidade dele. Só assim é possível desenvolver esse processo de maneira assertiva.
A princípio, é preciso entender o processo de transformação pela qual os jovens estão passando, considerando os cenários social e emocional deles, assim como as mudanças decorrentes das novas tecnologias.
O modelo tradicional de ensino atualmente trabalhado nas instituições de ensino está desalinhado com os anseios e necessidades dos jovens. Isso fica evidente quando olhamos para os indicadores de frequência e desempenho da etapa de ensino.
De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em 2016, 28% dos estudantes de ensino médio encontravam-se com mais de dois anos de atraso escolar e 26% dos estudantes abandonaram a escola ainda no 1º ano.
Quando buscamos um ponto em comum entre todos os fatores que influenciam para esse resultado, é possível chegar à seguinte conclusão: os jovens não enxergarem um propósito no modelo de ensino atual.
O formato de ensino engessado faz com que os estudantes se sintam desmotivados. Afinal, os alunos não compreendem a finalidade de passar horas estudando uma infinidade de conteúdos que não irão necessariamente contribuir com seu objetivo de vida.
Assim, para reverter esse quadro e garantir que os estudantes voltem a se interessar pelos estudos, o novo ensino médio coloca o jovem como centro da vida escolar, a fim de desenvolver um sistema de aprendizagem que estimule o desenvolvimento por meio do incentivo à autonomia e o protagonismo no processo de aprendizagem.
Desse modo, com a reformulação da oferta das aprendizagens essenciais e comuns por meio dos itinerários da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), os jovens poderão se dedicar à formação com a qual tenham afinidade para desenvolver seu projeto de vida.
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2. Inicie o planejamento prévio
Para construção de um planejamento prévio eficaz, as escolas devem trabalhar os seguintes aspectos:
- Estudo da propostas da Lei do Ensino Médio, da BNCC e os Referenciais para a Elaboração de Itinerários Formativos;
- Escuta das demandas da comunidade escolar;
- Diagnóstico dos recursos humanos, físicos e financeiros disponíveis.
Conheça as propostas e possibilidades
As instituições de ensino deverão conhecer a fundo as determinações da Lei do Ensino Médio, da BNCC e os Referenciais para a Elaboração de Itinerários Formativos, para garantir a assertividade e eficiência da aplicação do novo formato.
Nesse sentido, as escolas devem acessar todos os documentos que homologam a implementação do novo ensino médio. Afinal, o processo é fundamental para que a instituição domine os aspectos e possibilidades da construção dos itinerários formativos e de sua oferta nas escolas.
Considerando as competências gerais da BNCC e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a escola deve definir estratégias para ajudar os alunos a construírem seus projetos de vida.
“Os currículos do Ensino Médio deverão considerar a formação integral do aluno, de maneira a adotar um trabalho voltado para a construção de seu projeto de vida e para sua formação nos aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais” (ART.35-A, § 7º, LDB).
Dessa forma, as instituições de ensino podem oferecer orientação e profissional, assim como atividades que contribuam para o desenvolvimento das habilidades socioemocionais, além de práticas como empreendedorismo, iniciação científica e liderança estudantil.
Por fim, fica claro a necessidade das escolas entenderem suas possibilidades e deveres dentro do novo modelo de ensino para montar os currículos e proporcionar um processo de aprendizagem completo e estimulante aos estudantes.
Converse com a comunidade escolar
O incentivo ao protagonismo juvenil é um dos principais objetivos da implementação do novo ensino médio, por isso, é essencial realizar o processo de escuta com os estudantes que estão no ensino médio e também os que estão na na fase final do ensino fundamental, para reestruturar o currículo da instituição de ensino.
Entretanto, é preciso eleger as estratégias que serão usadas para realizar essa escuta, assim como definir quais perguntas serão feitas. Desse modo, será possível construir itinerários formativos que conversem com o contexto e a realidade de vida dos jovens de cada região.
Além dos discentes, é necessário ouvir também os docentes. Afinal, a instituição de ensino precisa conhecer os anseios e necessidades de toda a comunidade escolar para desenvolver estratégias que gerem bons resultados para todos.
Os professores podem contribuir nesse processo ajudando as escolas a entenderem os aspectos do cenário local, a fim de agregar esses fatores à formação dos estudantes. Assim, para viabilizar toda essa conexão, é preciso reforçar o diálogo entre os integrantes da comunidade.
Essas são estratégias de escuta que podem contribuir para o processo:
Rodas de conversa: a proposta viabiliza um espaço para que a comunidade escolar exponha suas principais necessidades dentro do processo de aprendizagem e debatam possíveis propostas.
Questionários estruturados: o portal do novo ensino médio disponibiliza um questionário que pode ser adaptado e utilizado pelas escolas no primeiro momento de escuta. Uma outra opção é a pesquisa Nossa Escola em (Re)Construção, do Instituto Inspirare, que disponibiliza questionários prontos e relatórios automáticos, que podem ser utilizados nesse processo de coleta.
Seminários regionais: A partir da escuta prévia dos estudantes, as instituições de ensino podem promover seminários regionais com os alunos, professores, gestores e representantes dos setores produtivos para apresentar e discutir as possibilidades do cenário local.
Faça um diagnóstico das possibilidades e recursos
Nessa etapa as escolas precisam realizar o diagnóstico da sua capacidade física, operacional e financeira para montar um plano de oferta da grade curricular. Os aspectos que precisam ser levados em consideração nesse processo são:
- Características da oferta: quais itinerários irá oferecer e de qual forma;
- Estrutura física: capacidade da escola oferecer os espaços e materiais necessários para desenvolvimento das práticas de cada itinerário;
- Corpo docente: formação dos profissionais e disponibilidade deles para a formação dos times por área do conhecimento;
- Parcerias: definição de parceiros que possam contribuir para a oferta dos cursos técnicos e profissionais;
- Distribuição territorial: como as escolas da região estão oferecendo os itinerários;
- Finanças: qual o recurso que a escola possui para promover as mudanças e como ele será distribuído;
- Transporte escolar: alinhar os novos horários com o setor que oferta o serviço;
- Capacidade de articulação: como os profissionais das instituições e os colaboradores externos poderão contribuir para a reestruturação.
3. Reelabore a grade curricular
Depois de conhecer as propostas da reformulação e os anseios e necessidades da comunidade escolar, as instituições de ensino devem iniciar a criação de seus novos currículos para o ensino médio.
A fim de facilitar o processo, as escolas devem seguir os seguintes passos:
Passo 1
Na primeira etapa de reelaboração currículo, as escolas devem montar as equipes que ficarão responsáveis por gerir e acompanhar o processo de criação. O time pode ser composto por gestores, coordenadores, professores, psicólogos, pedagogos, entre outros profissionais envolvidos no processo de aprendizagem.
Dentro da equipe, cada profissional deve desempenhar um papel e ficar responsável por uma etapa do processo de produção, garantindo, assim, que a reelaboração do currículo seja feita de forma assertiva.
Em seguida, a instituição de ensino precisa montar um planejamento para poder acompanhar o ritmo de produção do documento, visualizar os recursos disponíveis e os investimentos necessários, além de criar um cronograma de implementação do novo ensino médio.
Lembrando que o processo de desenvolvimento dos itinerários deve ser colaborativo e, mesmo que os módulos possam ser flexíveis, o currículo precisa estar de acordo com as competências BNCC.
Passo 2
Chegou o momento de iniciar a estrutura da nova grade curricular na prática. Nessa etapa, o grupo responsável por organizar e acompanhar a criação do documento deve se debruçar, junto ao corpo docente da instituição, para definir as metodologias que serão utilizadas.
Nesse processo, a escola pode analisar as metodologias que outras escolas já estão empregando para viabilizar a implementação.
Como se trata de um modelo que estimula o protagonismo estudantil, metodologias de ensino ativas, são boas opções para serem trabalhadas.
Além disso, a equipe precisa definir as diretrizes que irão nortear a aplicação dos itinerários. Princípios como: processo de avaliação, propostas de trabalho interdisciplinar e formato de aplicação e utilização de atividades são definidos nessa etapa.
Assim como as possibilidades de itinerários e os cursos técnicos disponíveis e a distribuição da carga horária e dos módulos.
Passo 3
Depois de determinar a nova grade curricular, a equipe responsável pelo documento deve eleger os redatores e iniciar a confecção da primeira versão do novo currículo. Nesse momento, é necessário levar em consideração todas as determinações pré-estabelecidas pelos órgãos reguladores da educação.
Logo depois, o documento deve ser conferido junto a uma instituição regulamentadora para posterior aplicação.
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4. Implemente o novo ensino médio
Defina o time intersetorial e o cronograma de implementação
O processo de implementação do novo ensino médio deve ser feito por um time de profissionais intersetorial. Diferente da etapa anterior, a equipe deste passo contará com colaboradores de setores como o financeiro e o de recursos humanos.
Desse modo, os profissionais devem desenvolver um cronograma de implementação progressiva e garantir que cada etapa seja executada de forma assertiva e eficaz.
A ideia de desenvolver um time com ainda mais braços e competências é para garantir o controle dos recursos financeiros e humanos, fundamentais para o bom resultado da implementação e o sucesso do novo modelo de ensino.
Estabeleça a carga horária e a oferta de itinerários
O cronograma de implementação progressiva deve determinar a forma com que a escola vai ampliar a carga horária dos alunos, considerando que no novo modelo, os alunos terão 1.000h de aula por ano. Todavia, a escola tem liberdade para dividir os turnos para aplicação do currículo regular e o curso profissionalizante.
Nessa etapa, o time intersetorial precisa analisar as possibilidades de oferta dos itinerários, respeitando as propostas da BNCC e os interesses dos estudantes e professores. Além disso, as escolas precisam definir como se será o processo de escolha dos itinerários pelos estudantes.
Nesse sentido, as instituições de ensino precisam, também, considerar questões como a transição dos alunos entre os itinerários sem que o estudante sofra nenhum prejuízo acadêmico, considerando que os projetos de vida ainda estão em construção e os jovens podem mudar de ideia no caminho.
Defina critérios
Outras definições como a forma de certificação dos estudantes, que podem cursar o ensino médio na escola de ensino regular e realizar o curso técnico na escola técnica ou cursar os dois itinerários na instituição de ensino regular.
Levando em consideração que os alunos, ao final do ensino médio, devem ser certificados pela conclusão da última etapa da educação básica e pela formação técnica que fez durante os três anos de ensino.
Além disso, as instituições de ensino precisam definir os critérios para a contratação de profissionais para ministrar o conteúdo do itinerário profissionalizante. Afinal, apenas os docentes responsáveis por lecionar os conteúdos das matérias regulares precisam, obrigatoriamente, serem licenciados para dar as aulas.
Ainda sobre os docentes, vale ressaltar que escolas que já planejam se preparar para a segunda etapa de implementação do novo ensino médio – a educação em tempo integral -, podem investir na qualificação continuada do corpo docente a fim de garantir uma melhor qualificação e preparação dos profissionais.
Viabilize projetos e materiais didáticos
A escola deve analisar a viabilidade dos projetos pedagógicos propostos pelos professores para o processo de aprendizagem. Afinal, é necessário considerar as limitações financeiras e da estrutura física.
Por fim, a instituição deve adequar ou desenvolver novos materiais pedagógicos para a aplicação das aulas no novo formato. Entretanto, é fundamental levar em consideração as novas metodologias de aprendizagem e o formato da aplicação das aulas e projetos acadêmicos.
Chegamos ao fim do nosso guia completo para o planejamento e implementação do novo ensino médio.
Produzimos esse e outros artigos sobre o assunto que você pode usar para nortear o processo de transição da sua escola.
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